Num momento onde os modismos pseudo educacionais tomam conta do mundo cibernético, mais do que nunca o pai ou educador precisa ficar antenado e conhecer os utilitários que de fato possam agregar valores cognitivos verdadeiros aos seus filhos ou alunos, sem, contudo, se deixar levar pela onda da vez…
De uma coisa todo mundo já sabe:difícil é encontrar criança que não fique fascinada ao entrar em contato com o mundo cibernético. O apelo visual, primeiro critério que a criança usa para aprovar alguma coisa, é muito forte. O fato de poder lidar com uma máquina feita para os adultos também é relevante. Sem contar as cores, a interatividade e movimentos multimídia, sons, música e as imagens fantásticas, e todo aquele apelo tecnológico.
Isto deveria ser então o cenário ideal para eleger o uso do computador como uma eficiente ferramenta de ensino. Mas, não é o que acontece. O que se vê, mesmo entre os chamados “Especialistas” é uma completa falta de bom senso. E assim os pais e professores são, na maioria das vezes, induzidos, ludibriados, enganados pela indústria do Software que se diz educativo. Se diz, uma vez que, na maioria das vezes, não é.
Assim jogam no colo das crianças “pseudos programas educativos”, que são na verdade apenas conceitos tirados dos cérebros vazios dos modernos “Teóricos Educacionais”, aqueles acadêmicos que sabem tanto da realidade educacional quanto um monge ermitão conhece de especulação no mercado financeiro. Desse modo, acabam por criar produtos de valor didático, na melhor das hipóteses, nulo, e na maioria, cognitivamente negativos.
O poder do computador como ferramenta educacional é inquestionável, desde que usado com critérios e inteligência. A coisa mais importante é saber o que estamos colocando nas mãos das crianças, tanto em casa como na escola. Não se trata de simples diversão. Qualquer modelo cognitivo distorcido que uma criança absorve nesse estágio etário, terá repercussão pelo resto da sua vida. Ocorre que seu repertório cerebral carece de esclarecimento adequado e de boa qualidade, e uma falha significa desvios comportamentais sérios no futuro.
Não adianta confiar em tudo que dizem os fabricantes e distribuidores de software. Estes farão de tudo para vender seus produtos, entretanto, se terão valor educativo de fato, com isso eles não estão preocupados. Trata-se do mesmo princípio ou abordagem já usada pelos traficantes e drogas: o importante é criar vício e dependência, mesmo que os efeitos resultantes sejam catastróficos.
Educação é uma coisa só, com ou sem tecnologia. Para educar bem é preciso entender como funciona uma criança. Criança não é psicologicamente igual a adulto. Criança tem seu próprio ritmo, e forçá-la a tornar-se adulto antes do tempo – o que ocorre entre a maioria dos educadores e pais – vai trazer prejuízos irreparáveis ao seu processo cognitivo, caráter, capacidade intelectual e maneira de se comportar diante da vida; ou ante os seus inumeráveis problemas, quando adulto se tornar.
“A presença do pai ou professor será sempre necessária durante todo processo de aprendizagem. O computador é apenas uma grande ferramenta de trabalho; um singular auxiliar nessa tarefa. Pai ou professor, orientando, encurtando os caminhos, usando os métodos tradicionais, incentivando brincadeiras de campo, nunca poderão ou deverão estar ausentes. A presença humana na educação é insubstituível. Sem ela não há educação; sem ela apenas sobrará a alienação e a ilusão de que se aprendeu alguma coisa.”
Um bom professor ensina de um modo que o aluno não percebe que está estudando. Ali não existem as obrigações explícitas comuns do aprender, então tudo é como diversão. Assim também deve ser um software educativo.
A questão então é como “ensinar” sem que o aluno – segundo o ponto de vista do próprio aluno – perceba que está cumprindo a árdua missão de aprender alguma coisa? Afinal de contas, para a maioria das crianças ou jovens, o ato de ir à escola não é uma tarefa que farão de boa vontade.
Resumindo: como associar um rico conteúdo didático ou de valor cognitivo a um programa ou aplicativo, cujo objetivo é ensinar e divertir ao mesmo tempo?
Quando uma brincadeira é divertida e envolvente a criança terá prazer em praticá-la, e contará as horas até que possa novamente repeti-la. Dificilmente a esquecerá, mesmo que suas regras sejam complexas e lhe exija ordem e disciplina.
Quais seriam então as brincadeiras que mais agradam as crianças? Para saber disso é preciso entender como a criança vê o mundo à sua volta. E é um mundo muito diferente daquele visto pelos olhos adultos. Sendo um bom observador, paciente, organizado e interessado, esse adulto, no papel de pai ou educador, poderá descobrir. Mas enquanto isso não acontece, aqui vão algumas dicas que muito poderão ajudar na hora de escolher um software educativo, ou uma atividade educativa qualquer, para seu filho ou aluno.
- Em primeiro lugar, crianças são entidades individuais e, portanto, apesar do convívio coletivo, precisam ser tratadas de forma individual. Por uma questão cultural meninos poderão preferir softwares diferentes daqueles idealizados para o público feminino. Do ponto de vista didático esta diferença não existe, e não deverá ser incentivada.
- A criança que pergunta muito e é questionadora, só irá exercitar o benefício da dúvida se o instrutor ao seu lado for receptivo e lhe inspirar total confiança.
- Do ponto de vista de uma criança, a última impressão é a que fica. Pai ou professor de bom humor durante 364 dias do ano e de cara feia no último dia, apenas este último dia será levado em conta. Nesse caso a última impressão é a que fica mesmo.
- O que soa agradável para uma criança, pode não ser para outra. Então, se possível, a escolha do software deverá obedecer a critérios individuais. E há também o problema do ritmo cognitivo de cada uma, e assim por diante.
- Errar e tentar de novo, infinitas vezes, é a regra básica de uma criança, desde que ela se sinta confortável para uma nova rodada de tentativas.
- A expressão “Tá errado” deve ser substituída por “Vamos tentar agora dessa outra forma”. “Tá errado” induz instabilidade emocional e insegurança na criança. Ao término de uma tarefa, a expressão destruidora da criatividade humana, “Você tem certeza?”, deve ser evitada. Diga simplesmente que está certo ou incompleto e pronto.
- Aqui vale um alerta importante. Pais e professores não se enganem, crianças adoram jogos violentos; aqueles onde a destruição é o tema central, principalmente pela ação frenética, explosões, tiros, os efeitos sonoros incríveis e o farto apelo visual que possuem essa categoria de softwares. Cabe então a cada responsável manter este repertório longe delas. E caso o educador tenha consciência desse fato, também é recomendável, de forma clara e sem floreios, explicar para elas os motivos.
- Os danos psicológicos e cognitivos que estes softwares causam às crianças, além do já comprovado estado de ansiedade crônica, são inumeráveis. Dentre eles, desequilíbrio emocional e dispersão mental, estados psicopatológicos de bipolaridade, comportamentos violentos, e assim por diante – não acredite nos “especialistas” que negam esse fato, os estudos comprobatórios estão por toda parte. E os efeitos negativos são devastadores e óbvios, impossíveis de se esconder. Não acredite nos estudos patrocinados pelos fabricantes, ou nos “especialistas” de quinta categoria e sem escrúpulos, que estão por trás de cada balcão de loja, tentando negar esse fato.
- Uma coisa muito importante: A criança é muito exigente quanto à qualidade gráfica e estética de um programa, e isso tem influência decisiva no processo de aceitabilidade do mesmo. O programa pode ser o melhor do mundo em conteúdo, mas, se não tiver boa qualidade gráfica, é bom nem tentar.
- Só lembrando: a boa estética dos objetos ou organização e a qualidade gráfica é coisa de extrema importância na formação psicológica da criança. Eis o que isso significa para ela: higiene, limpeza e asseio. Organização pessoal e disciplina, pensamento retilíneo, positivismo, objetivos alcançáveis; bem estar mental, a assim por diante. Precisa dizer mais alguma coisa?
Fonte: Uol
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