Parece que um dos grandes problemas dos nossos tempos é a visão quase sempre parcial que temos das coisas à nossa volta. Isso normalmente ocorre porque valorizamos a especialização. Desde cedo somos condicionados a buscar na especialização uma resposta para todos os nossos problemas. Mas, ao contrário do se pensa, isso acaba por limitar de forma dramática nossa visão do mundo, uma vez que passamos a ver tudo como fragmentos.
É como se olhássemos o mundo de uma janela e a parte visível representasse tudo o que existe. Se emocionalmente, diante de cada situação reagimos de uma maneira bem peculiar, assim como nós, todas as outras pessoas têm seu próprio modo de reagir às mesmas situações. Pode-se constatar isso facilmente através da observação das nossas preferências, particularidades, medos, e assim por diante.
Um dos grandes desafios do educador deveria ser a formação de alunos dentro de uma filosofia integral. Por integral entendemos, enxergar o movimento da vida como uma coisa só, em transformação, nunca estática, sempre dinâmica, e não encarcera pela fragmentação, como é a visão especialista. Entendemos que a vida como um todo retrata todas as faces do indivíduo, suas crenças, os medos, os conflitos, as incertezas, a angústia, e todo sofrimento ao qual ele está sujeito, sem, contudo, desprezar sua biologia. Mas não podemos ignorar que o seu processo psicológico merece uma atenção especial.
Não podemos compreender um ente humano tomando como base apenas uma parte do seu comportamento, a exemplo de uma postura social, situação étnica, ou mesmo a partir de uma preferência ideológica. Ele é tudo isso e muito mais; mais do que podemos perceber com nossos sentidos ordinários, ou nossa mente condicionada, amordaçada pela especialização.
De certo modo somos orientados desde cedo a seguir uma carreira, a pensar dentro de uma caixa de métodos, segundo uma doutrina ou conjunto de regras, o que acaba se tornando o nosso mundo. Um mundo privado e cercado pelas muralhas desse repertório de conhecimento, que representa todo nosso saber, e atrás das quais nos escondemos. E isso acaba por nos confortar, criando acomodação, pois é um terreno sempre conhecido; é como se além daquilo nada mais existisse.
Entender que a vida é dinâmica e está sempre em transformação, que é um mundo onde as alternativas ou opções mudam de posição constantemente, assim como exige o próprio ir e vir do viver, capacita o estudante a ter uma mente mais flexível, com disposição para se renovar sempre. Isso o facultará a acompanhar com mais realismo este incrível movimento impossível de ser contido.
Uma mente flexível sabe que as alternativas são reais, e nunca se contenta com respostas prontas. É por natureza curiosa, está sempre aberta ao que é novo. O raciocínio lógico, de algum modo, capacita o jovem a pensar logo em alternativas, como possíveis respostas para seus problemas. Essa visão o impede de tomar decisões precipitadas em sua vida adulta, pois saberá que para todo problema sempre haverá uma solução, e muitas alternativas para se chegar a ela. Uma mente com esse perfil estará mais capacitada para lidar com a dinâmica da vida.
Um dos maiores dilemas do ser humano é sentir-se encurralado diante de uma situação qualquer. Nesse momento, sua mente não consegue raciocinar de uma forma lógica, coesa, racional, e os pensamentos se tornam mais ou menos fixos, recorrentes; ficarão gravitando em torno de um mesmo ponto, ou ideia, enfatizando as implicações do problema, como se estivesse presa numa espécie de vácuo mental.
Nesse caso, desaparecem as respostas prontas, e como que por encanto não conseguirá vislumbrar alternativas. Uma espécie de engasgo temporário, do qual aquela mente não consegue se libertar é o efeito esperado. Isso acontece na maioria das vezes, devido ao condicionamento rígido que valoriza a visão fragmentária das coisas, de forma inflexível, presa à especialização.
E quase nunca somos capazes de ver um problema a partir da sua origem. E tentamos solucioná-lo a partir dos seus efeitos, o que é um grande erro, uma vez que as consequências de um problema, na maioria das vezes, não representa o problema em si.
Essa visão parcial limita nosso pensar; limita nossas ações diante de questões simples ou complexas. O indivíduo que se especializa numa determinada área do conhecimento, decerto terá uma visão bastante restrita de tudo que não diga respeito aos seus domínios. E embora isso seja um fato óbvio, nunca é tratado como uma das razões da angústia e conflitos humanos.
Uma visão parcial só é capaz de criar um indivíduo temeroso de tudo que possa encontrar além da sua área de atuação, ou domínios. Sentir-se-á naturalmente inseguro diante de qualquer situação fora do seu escopo cognitivo. Será por natureza conservador, e sempre dependente de outros para guiar seus passos fora daquilo que conhece. Um indivíduo inflexível, que dificilmente conseguirá ser feliz diante de uma vida, que está sempre em movimento, sempre a se diversificar, em constante renovação.
Autor: Alberto Silva Filho
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